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Despedida



     Dez. Tudo foi perfeito, direito, compreensível, amável, dócil, ligeiro, espetacular, morno, sutil, sentido, torpe, inflamável, quente, risível, inexplicável, duro, escondido, amedrontador, nervoso, insaciável, inefável, corruptível, ardil, vário, e até mesmo catastrófico. Mas tudo FOI. Nove. A esperança floresce qual orquídea debruçada em uma janela rústica qualquer de Veneza. O peito, onde se guarda os pensamentos, acelera por desenhar-se telas tão belas com tintas tão inexistentes – ainda. Oito. Hora de pensar nas figuras esculpidas, nas Vênus deformadas, nas mãos trêmulas de Milo, as quais não tiveram a coragem necessária para erguer o que tanto e tanto planejaram. Sete. O sorriso esquece, faz esquecer e é esquecido. O torpe nervosismo das lembranças daqueles que se foram, daqueles que dali a pouco não verão a chegada de uma nova cifra no calendário da vida. O estopim do pranto. Seis. Vêm à memória os amigos que se foram, mas que ainda neste mundo frio se encontram, aqueles que nos pediram a liberdade e foram atendidos, seja por má educação ou por bondade... amigos são pessoas que lembramos quando não podemos tê-las por perto. Cinco. A vontade absurda de querer estrangular o tempo e pisoteá-lo e amassá-lo e enforcá-lo e... envelhecê-lo, e descontar, e fazê-lo ciente do mal que causa. Quatro. Olha-se ao redor. Reergue-se a esperança de outrora. Três. Não se pensa em mais nada, o que há de ser, só o tempo, este coveiro dos sonhos, há de construir. Dois. Lágrimas enxutas. Um. Estouros. Brindes. Abraços. Uma suposta vida nova.



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