Partiu num dia qualquer
Sem ao menos dizer adeus
E o que ficou?
Sem ao menos dizer adeus
E o que ficou?
Menos de Um Segundo – Rosa de Saron
Conheci, há algum tempo, uma pessoa. Ela era meio perturbada, confesso, vivia sempre massacrando meu tempo. Mal chegava por lá, onde eu a encontraria, e ela vinha logo com uma conversa chata, com aqueles olhos caídos, primos da súplica... era carente, coitada. Mas sou humano, não me importei com os problemas dele; um simples silogismo aristotélico explica. Sofria ela de um pouco de carência, que tem demais nisso? Todos nós somos sozinhos, solitários na multidão. Talvez algum problema psicológico adicional, no entanto não sou psicólogo. Outra possibilidade seria poucos amigos, ainda sim, morávamos distante um do outro.
Às vezes, eu percebia que ela, essa pessoa, só queria mesmo falar comigo, desabafar seus mini-problemas – porque sempre são “mini” pra gente –, dizer como foi o dia, o que fez de importante, saber um pouco da minha vida, talvez para querer se espelhar, ou mesmo por curiosidade... mas quem dá atenção à uma criança de doze anos?
Ela sempre perguntou a mesma coisa, eu sempre inventei desculpas variadas, soluções variáveis para o mesmo problema. Ela morreu. O que ficou? A culpa de ter tentado desvendá-la de longe quando era por perto que eu devia estar. Não somente eu. A pessoa, um garoto de doze anos, não faleceu em decorrência da minha ignorância... mas a vida dele, sem amigos, sem a atenção que queria, foi embora, em relação à minha e à sua, em menos de um segundo.
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